Este
capítulo fornece uma visão geral dos mecanismos de ação e espectro dos
antibacterianos mais comumente utilizados, assim como uma descrição dos
mecanismos comuns de resistência bacteriana.
A terminologia apropriada para a discussão é sumarizada no Quadro 17-1 e
os mecanismos básicos, como os sítios de atividade dos antibióticos, estão
sumarizados na Tabela 17-1 e Figura 17-1, respectivamente.
Quadro 17-1
Terminologia
Espectro antibacteriano
Extensão
da atividade de um antimicrobiano contra bactérias. Um fármaco antibacteriano
de amplo espectro pode inibir uma variedade de bactérias Gram positivas e Gram
negativas, entretanto um fármaco com um espectro menor é ativo somente contra
uma variedade limitada de bactérias.
Atividade bactericida
Nível
da atividade antibacteriana que mata o organismo testado. Esta é determinada in
vitro testando concentrações padronizadas de organismos contra uma série de
diluições. A concentração mais baixa que mata 99,9% da população é denominada
concentração bactericida mínima (CBM)
Combinações de antibióticos
Combinações
de antibióticos que podem ser utilizadas para
(1) aumentar o espectro antibacteriano para a terapia empírica ou para o tratamento de infecções polimicrobianas, (2) prevenir o aparecimento de organismos resistentes durante o tratamento, e (3) atingir um efeito letal sinérgico.
(1) aumentar o espectro antibacteriano para a terapia empírica ou para o tratamento de infecções polimicrobianas, (2) prevenir o aparecimento de organismos resistentes durante o tratamento, e (3) atingir um efeito letal sinérgico.
Sinergismo de antibióticos
Combinações
de dois antibióticos que produzem juntos uma intensificada atividade
bactericida quando comparada com a atividade de cada antibiótico separado.
Antagonismo de antibiótico
Combinações
de antibióticos na qual a atividade de um antibiótico interfere com a atividade
do outro (p. ex., a soma das atividades é menor do que a atividade do fármaco
mais ativo, quando usada individualmente).
β-Lactamase
Enzima que hidrolisa o anel
β-lactâmico presente na classe de antibióticos β-lactâmicos, inativando o
antibiótico. As enzimas específicas para penicilinas, cefalosporinas e
carbapenemas são as penicilinases, cefalosporinases e carbapenemases (metalo- β-lactamases),
respectivamente.
Figura 17-1 Sítios básicos da ação antibiótica.
DNA, ácido desoxirribonucleico; PBPs,
proteínas ligadoras de penicilina; RNA, ácido ribonucleico.
O
ano de 1935 foi especialmente importante para a quimioterapia das infecções
bacterianas sistêmicas. Embora os
antissépticos fossem aplicados topicamente para prevenção do crescimento de microrganismos,
os antissépticos existentes eram ineficazes contra as infecções bacterianas
sistêmicas. Em 1935, demonstrou-se que o
corante protosil era capaz de proteger camundongos
contra infecções estreptocócicas sistêmicas e que permitia a cura de pacientes
que sofriam de tais infecções. Logo se
descobriu que o protosil era rompido no organismo para liberar p-aminobenzeno
sulfonamina (sulfanilamida), que demonstrou apresentar atividade
antibacteriana. O primeiro fármaco
“sulfa” introduziu-nos em uma nova era na medicina. Os compostos produzidos por microrganismos
(antibióticos) foram casualmente reconhecidos como capazes de inibir o
crescimento de outros microrganismos. Alexander
Fleming, por exemplo, foi o primeiro a conceber que o fungo Penicillium
prevenia a multiplicação de Staphylococcus.
Foi preparado um concentrado de uma cultura deste fungo e pode se
demonstrar a notável atividade antimicrobiana e a ausência de toxicidade do
primeiro antibiótico, a penicilina. A
estreptomicina e as tetraciclinas foram desenvolvidas nos anos de 1940 e 1950,
seguidas do desenvolvimento de aminoglicosídeos adicionais, penicilinas
semissintéticas, cefalosporinas, quinolonas e outros antimicrobianos. Todos esses agentes antibacterianos
aumentaram muito o espectro de doenças infecciosas passíveis de prevenção e de
cura. Embora o desenvolvimento tenha
sido retardado nos anos recentes, algumas novas classes de agentes têm sido
introduzidas, incluindo-se os ketolídeos (p.
ex., telitromicina), glicilciclinas (tigeciclina), lipopeptídeos (daptomicina),
estreptograminas (quinupristina-dalfopristina) e oxazolidinonas (linezolid). Infelizmente,
com a introdução de novos agentes terapêuticos, as bactérias têm mostrado uma
notável capacidade de desenvolver resistência. Desta forma, a terapia
antibiótica não será a cura mágica de todas as infecções, como se pensava; mais
propriamente, é somente uma arma, ainda que importante, contra as doenças
infecciosas. É também importante
reconhecer que pela resistência aos antibióticos ser frequentemente
imprevisível, os médicos devem se valer das suas experiências clínicas para a seleção
inicial da terapia empírica. Diretrizes
para a conduta nas infecções causadas por organismos específicos são discutidas
em capítulos relevantes desse texto.
Inibição da Síntese de Parede
Bacteriana
O
mais importante mecanismo de atividade dos antibióticos é a interferência com a
síntese da parede celular bacteriana. A
maioria dos antibióticos ativos em paredes celulares é classificada como
antibióticos β-lactâmicos (p. ex.,
penicilinas, cefalosporinas, cefamicinas, carbapenens, monobactâmicos,
inibidores de β-lactamases), são assim chamados porque compartilham uma estrutura
de anel β-lactâmico. Outros antibióticos
podem interferir com a construção da parede celular bacteriana, incluindo
vancomicina, daptomicina, bacitracina e os seguintes agentes antimicobacterianos:
isoniazida, etambutol, cicloserina e etionamida.
Antibióticos β-lactâmicos
O
principal componente estrutural da maioria das paredes celulares é a camada de peptidoglicano. A estrutura básica é uma cadeia de 10 a 65
resíduos de dissacarídeos constituído de moléculas alternantes de N-acetilglicosamina
e de ácido N-acetilmurânico. Estas
cadeias são ligadas por pontes de peptídeos que criam uma cobertura rígida para
as bactérias. A construção das cadeias e
as ligações cruzadas são catalisadas por enzimas específicas (p. ex., transpeptidases, transglicosilases,
carboxipeptidases), que são membros de uma grande família das proteases
serinas. Estas enzimas regulatórias são
também chamadas de proteínas ligadoras de penicilina (PBPs), porque são os
alvos de antibióticos β-lactâmicos. Quando
as bactérias em crescimento são expostas a estes antibióticos, o antibiótico se
liga às PBPs específicas na parede celular bacteriana e inibe a montagem das
cadeias de peptidoglicano. Isso, por sua
vez, ativa as autolosinas que degradam a parede celular resultando na morte da
célula bacteriana. Desta forma, os
antibióticos β-lactâmicos atuam como agentes bactericidas.
As
bactérias podem se tornar resistentes aos antibióticos β-lactâmicos por três mecanismos
gerais: (1) impedimento da interação entre o antibiótico e a PBP-alvo; (2)
modificação da ligação do antibiótico com a PBP; e (3) hidrólise do antibiótico
por β-lactamases. O primeiro mecanismo
de resistência é encontrado somente em bactérias Gram negativas (particularmente
em espécies de Pseudomonas), porque estas possuem uma membrana externa que se
sobrepõe ao peptidoglicano. A penetração dos antibióticos β-lactâmicos nos
bacilos Gram negativos exige a passagem através de poros da membrana externa. Alterações nas proteínas (porinas) que formam
as paredes dos poros podem alterar o tamanho ou a carga desses canais e
resultar na exclusão do antibiótico.
A
resistência pode também ser adquirida pela modificação da ligação do
antibiótico β-lactâmico à PBP. Isto pode
ser mediado por (1) superprodução de PBP (uma ocorrência rara), (2) aquisição
de nova PBP (p. ex., a resistência à
meticilina em Staphylococcus aureus), ou (3) modificação de uma PBP existente
por recombinação (p. ex., resistência à
penicilina em Streptococcus pneumoniae) ou uma mutação pontual (resistência à
penicilina em Enterococcus faecium).
Finalmente,
as bactérias podem produzir β-lactamases que inativam os antibióticos β-lactâmicos. É interessante que as β-lactamases estão na
mesma família das proteases serinas, como as PBPs. Mais de 200 β-lactamases diferentes foram
descritas. Algumas são específicas para
penicilinas (penicilinases), cefalosporinas (cefalosporinases) ou carbapenens (carbapenemases). Outras possuem um amplo espectro de
atividade, incluindo algumas que são capazes de inativar a maioria dos
antibióticos β-lactâmicos. Uma ampla
discussão sobre as β-lactamases está além da finalidade deste capítulo;
entretanto, uma breve discussão é pertinente para a compreensão das limitações
dos antibióticos β-lactâmicos. Seguindo
um dos esquemas de classificação, as β-lactamases podem ser separadas em quatro
classes (A até D). A classe mais comum
das β-lactamases é a classe A, onde estão a SHV-1 e a TEM-1, penicilinases
encontradas em bacilos Gram negativos comuns (p. ex., Escherichia, Klebsiella),
com atividade mínima sobre as cefalosporinas.
Infelizmente, mutações pontuais nos genes que codificam estas enzimas criaram
β-lactamases com atividade contra todas as penicilinas e cefalosporinas. Estas β-lactamases são denominadas de β-lactamases
de espectro estendido (ESBLs) e são particularmente problemáticas, pois são
codificadas em plasmídios que podem ser transferidos entre organismos. As β-lactamases da classe B são as metaloenzimas,
que são dependentes de zinco e possuem amplos espectros de atividade contra
antibióticos β-lactâmicos, incluindo-se as cefamicinas e os carbapenens. As β-lactamases
da classe C são cefalosporinases codificadas no cromossomo bacteriano. A
expressão dessas enzimas é geralmente reprimida, embora isto possa ser alterado
pela exposição a certos antibióticos β-lactâmicos “indutores”, ou ainda, por
mutações nos genes que controlam a expressão das enzimas. A expressão dessa classe de β-lactamases é particularmente
problemática, pois estas enzimas são ativas às mais potentes cefalosporinas de espectro
ampliado. As β-lactamases da classe D
são penicilinases encontradas principalmente em bacilos Gram negativos.
Penicilinas
As penicilinas (Tab. 17-2) são antibióticos altamente eficientes, com uma toxicidade extremamente baixa. O composto básico é um ácido orgânico com um anel β-lactâmico obtido em culturas do fungo Penicillium chrysogenum. Se o fungo cresce em processo fermentativo, são produzidas grandes quantidades de ácido 6-aminopenicilânico (o anel β-lactâmico é fundido com um anel de tiazolidina). A modificação bioquímica desse intermediário produz derivados que possuem uma instabilidade dimuída a ácido, aumentada absorção no trato gastrointestinal, resistência à destruição por penicilinase ou um espectro de ação mais amplo que inclui bactérias Gram negativas.
Tabela 17-2 Penicilinas
A
penicilina G não é absorvida completamente, uma vez que é inativada pelo ácido
gástrico. Por isso é utilizada principalmente como um fármaco intravenoso para
o tratamento de infecções causadas por um número limitado de organismos
sensíveis. A penicilina V é mais
resistente ao ácido gástrico, sendo a forma oral preferida para o tratamento de
bactérias sensíveis a este fármaco. As penicilinas resistentes à penicilinase, como
a meticilina e a oxacilina, são utilizadas no tratamento de infecções causadas
por Staphylococcus sensíveis. A
ampicilina foi a primeira penicilina de amplo espectro, embora o espectro de
ação contra bacilos Gram negativos fosse limitado a Escherichia, Proteus e
Haemophilus. Outras penicilinas (p. ex., carbenicilina, ticarcilina,
piperacilina) são eficientes contra um espectro mais amplo de bactérias Gram
negativas, incluindo espécies de Klebsiella, Enterobacter e Pseudomonas.
Penicilinas
selecionadas foram combinadas com inibidores de β-lactamase. Os inibidores de
β-lactamase (p. ex., ácido clavulânico,
sulbactam, tazobactam) são relativamente inativos por si mesmos; mas quando
combinados com certas penicilinas (p.
ex., ampicilina, amoxacilina, ticarcilina, piperacilina), são eficientes
no tratamento de algumas infecções causadas por bactérias produtoras de β-lactamase. Os inibidores se ligam irreversivelmente e
inativam as β-lactamases bacterianas sensíveis (embora nem todas sejam ligadas
por esses inibidores), permitindo que o fármaco associado interrompa a síntese
da parede celular bacteriana.
Cefalosporinas e Cafamicinas
As
cefalosporinas (Tab. 17-3) são antibióticos
β-lactâmicos derivados do ácido 7-aminocefalosporânico (o anel β-lactâmico é fundido
com o anel di-hidrotiazina) que foi originalmente isolado a partir do fungo
Cephalosporium. As cefamicinas são
relacionadas às cefalosporinas, exceto pelo fato de conterem oxigênio no lugar
do enxofre no anel di-hidrotiazina, o que as tornam mais estáveis à hidrólise
pelas β-lactamases. As cefalosporinas e
cefamicinas apresentam o mesmo mecanismo de ação das penicilinas; entretanto,
possuem um espectro antibacteriano mais amplo, são resistentes a várias β-lactamases
e dispõem de melhores propriedades farmacocinéticas (p. ex., meia-vida mais
longa).
Tabela 17-3 Exemplos Selecionados de Cefalosporinas e Cefamicinas
As
modificações bioquímicas na molécula base do antibiótico resultaram no desenvolvimento
de antibióticos com atividades mais intensas e com propriedades farmacocinéticas
mais favoráveis. As cefalosporinas
possuem atividade mais intensas contra bactérias Gram negativas quando
comparadas às penicilinas. Esta
atividade, por outro lado, é variável entre as várias “gerações” de
cefalosporinas. A atividade de espectro
restrito dos antibióticos de primeira geração é restrita à Escherichia coli,
espécies de Klebsiella, Proteus mirabilis e cocos Gram positivos sensíveis à
oxacilina. Muitos antibióticos de espectro
ampliado de segunda geração possuem atividade adicional contra Haemophilus
influenzae, Enterobacter, Citrobacter e espécies de Serratia, além de agir
sobre alguns anaeróbios como Bacteroides fragilis. Os antibióticos de amplo espectro de terceira
geração e os antibióticos de espectro ampliado de quarta geração são ativos
contra a maioria das Enterobacteriaceae e das Pseudomonas aeruginosa. Os antibióticos de espectro ampliado possuem
a vantagem de uma maior estabilidade frente às β-lactamases. Infelizmente, bactérias Gram negativas desenvolveram
rapidamente resistência à maioria das cefalosporinas e cefamicinas (principalmente
como resultado da produção de β-lactamases), o que tem comprometido
significativamente a utilização de todos esses agentes.
Outros Antibióticos β-lactâmicos
Outras classes de antibióticos β-lactâmicos (Tab. 17-4) são os carbapenens (p. ex., imipenem, meropenem, ertapenem) e os monobactâmicos (p. ex., aztreonam). Os carbapenêmicos são antibióticos importantes, amplamente prescritos e na prática ativos contra todos os grupos de organismos, com poucas exceções (p. ex., foi relatada resistência a todos os Staphylococcus resistentes à oxacilina, algumas Enterobacteriaceae e Pseudomonas e, a outros bacilos Gram negativos). De forma contrastante, os monobactâmicos são antibióticos de espectro restrito, ativos somente contra bactérias Gram negativas aeróbias. As bactérias anaeróbias e as bactérias Gram positivas são resistentes. A vantagem dos antibióticos de espectro restrito é que eles podem ser utilizados para tratar organismos sensíveis sem comprometer a população normal de bactérias protetoras do paciente. Apesar desta vantagem, os monobactâmicos não são amplamente empregados.
Tabela 17-4 Outros Antibióticos β-lactâmicos
Glicopeptídeos
A
vancomicina, originalmente obtida de Streptomyces orientalis, é um
glicopeptídeo complexo que interrompe a síntese do peptidoglicano da parede
celular em bactérias Gram positivas, em crescimento. A vancomicina interage com a terminação D-alanina-D-alanina
das cadeias pentapeptídicas laterais, que interfere na formação das pontes
entre as cadeias do peptidoglicano. A
vancomicina é utilizada para o tratamento de infecções causadas por Staphylococcus
resistentes à oxacilina e para outras bactérias Gram positivas resistentes aos antibióticos
β-lactâmicos. A vancomicina é inativa
contra bactérias Gram negativas, pois a molécula é muito grande para atravessar
os poros da membrana externa e alcançar o peptidoglicano, que é o seu sítio-alvo. Além disso, alguns organismos são
intrinsecamente resistentes à vancomicina (p.
ex., Leuconostoc, Lactobacillus, Pediococcus e Erysipelothrix) porque os
pentapeptídeos terminam em D-alanina-D-lactato, que não se ligam à vancomicina.
A resistência intrínseca é também encontrada em algumas espécies de enterococos
que contêm terminações D-alanina-E-serina (ou seja, Enterococcus gallinarum,
Enterococcus casseliflavus).
Finalmente,
algumas espécies de enterococos (principalmente Enterococcus faecium e Enterococcus
faecalis) adquiriram resistência à vancomicina.
Os genes para esta resistência (principalmente vanA e vanB), que também
mediam alterações na terminação do pentapeptídeo, podem ser transportados em
plasmídios. Estes genes vêm
comprometendo seriamente o uso da vancomicina para o tratamento de infecções
enterocócicas. Mais importante ainda, o
gene para resistência à vancomicina contido em um transposon de um plasmídio
conjugativo de multirresistência foi transferido in vivo de um E. Faecalis para um S. Aureus multirresistente. O transposon moveu-se do plasmídio de E. faecalis,
recombinou-se e integrou-se no plasmídio de multirresistência de S. aureus.
Isto resultou em um plasmídio de S. aureus que codifica resistência a β-lactâmicos,
vancomicina, aminoglicosídeos e a outros antibióticos. Um plasmídio que pode ser transferido para
outros Staphylococcus por conjugação. Obviamente,
se tal resistência se tornar amplamente disseminada, as implicações médicas
serão muito graves.
Lipopeptídeos
A
daptomicina, um lipopeptídeo cíclico de ocorrência natural produzido por
Streptomyces roseosporus, se liga irreversivelmente à membrana citoplasmática,
resultando em despolarização e interrupção dos gradientes iônicos e, por fim, a
morte celular. Apresenta potente
atividade contra bactérias Gram positivas, porém as bactérias Gram negativas
são resistentes à daptomicina, pois o fármaco não consegue penetrar através da
parede celular até a membrana citoplasmática.
A daptomicina tem boa atividade contra Staphylococcus multirresistentes,
Streptococcus e Enterococcus (incluindo cepas resistentes à vancomicina).
Polipeptídeos
A
bacitracina, que foi isolada de Bacillus licheniformis, é uma mistura de
polipeptídeos utilizados para aplicações tópicas (p. ex., cremes, pomadas, sprays), para o
tratamento de infecções de pele causadas por bactérias Gram positivas
(particularmente aquelas causadas por Staphylococcus e por Streptococcus do
grupo A). As bactérias Gram negativas
são resistentes a este agente. A
bacitracina inibe a síntese da parede celular, interferindo na desfosforilação
e na reciclagem do lipídeo carreador responsável pela movimentação dos
precursores do peptidoglicano através da membrana citoplasmática, até a parede
celular. Isto pode também lesar a
membrana citoplasmática bacteriana e inibir a transcrição do ácido robonucleico
(RNA). A resistência ao antibiótico é mais comumente causada pelo fracasso do
antibiótico em penetrar na célula bacteriana.
As
polimixinas são um grupo de polipeptídeos cíclicos derivados do Bacillus
polymyxa. Estes antibióticos se inserem
nas membranas bacterianas como detergentes, interagindo com os lipopolissacarídeos
e os fosfolipídios na membrana externa, produzindo aumento da
Permeabilidade
celular e, eventualmente, a morte celular.
As polimixinas B e E (colistina) são capazes de causar nefrotoxicidade
grave. Desta forma, seu uso tem sido limitado principalmente a infecções
externas localizadas, como as otites externas, infecções oculares e infecções cutâneas
causadas por organismos sensíveis. A
colistina, por outro lado, é utilizada para o tratamento de algumas infecções
sistêmicas causadas por bacilos Gram negativos multirresistentes. A administração oral é empregada para a
esterilização intestinal. Esses antibióticos
são muito mais ativos contra bacilos Gram negativos, pois as bactérias Gram
positivas não possuem uma membrana externa.
Isoniazida, Etionamida, Etambutol e
Cicloserina
A
isoniazida, etionamida, etambutol e cicloserina são antibióticos ativos na
parede celular, utilizados para o tratamento de infecções por micobactérias. A isoniazida (hidrazida do ácido isonicotínico
[INH]) é bactericida contra micobactérias em replicação. Embora, não se conheça
o mecanismo exato de sua ação, sabe-se que a síntese do ácido micólico é
afetada (ocorre a desnaturação de ácidos graxos de cadeias longas e a
interrupção do aumento de ácidos graxos e de hidroxilipídios). A etionamida, um derivado do INH, também
bloqueia a síntese de ácido micólico. O etambutol
interfere com a síntese da arabinogalactana da parede celular e a cicloserina
inibe duas enzimas, D-alanina-D-alanina sintase e alanina racemase, que
catalisam a síntese da parede celular. A
resistência a esses quatro antibióticos resulta principalmente da captação
reduzida do fármaco para o interior da célula bacteriana ou de alterações nos
sítios-alvo.
Inibição da Síntese Proteica
A
principal ação dos agentes na segunda maior classe de antibióticos é a inibição
da síntese proteica (Tab. 17-1).
Aminoglicosídeos
Os
aminoglicosídeos (Tab. 17-5) são antibióticos constituídos por aminoaçúcares,
ligados por pontes glicosídicas a um anel aminociclitol. A estreptomocina, neomicina, k anamicina e tobramicina
foram originalmente isoladas a partir de espécies de Streptomyces e a
gentamicina e sisomicina foram isoladas a partir de espécies de Micromonospora. A amicacina e netilmicina são derivados
sintéticos da k anamicina e da sisomicina, respectivamente. Esses antibióticos exercem suas funções
atravessando a membrana externa bacteriana (nas bactérias Gram negativas), a
parede celular e a membrana citoplasmática até chegarem no citoplasma, onde inibem
a síntese proteica bacteriana por ligação irreversível às proteínas da região
30S do ribossomo. Esta ligação aos
ribossomos produz dois efeitos: a produção de proteínas anômalas como
resultado dos erros de leitura do RNA mensageiro (RNAm) e a interrupção da
síntese
proteica por conta do ribossomo liberar prematuramente o RNAm.
proteica por conta do ribossomo liberar prematuramente o RNAm.
Tabela 17-5 Inibidores da Síntese Proteica
Os
aminoglicosídeos são bactericidas pela capacidade de ligarem-se
irreversivelmente aos ribossomos. São comumente utilizados para o tratamento de
infecções graves causadas por vários bacilos Gram negativos (p. ex., Enterobacteriaceae, Pseudomonas,
Acinetobacter) e alguns organismos Gram positivos. A penetração através da membrana
citoplasmática é um processo aeróbio dependente de energia. Desta forma, os anaeróbios são resistentes
aos aminoglicosídeos e os organismos sensíveis, quando estão em ambientes
anaeróbicos (p. ex., abscessos) não
respondem bem ao tratamento. Estreptococos e enterococos são resistentes aos
aminoglicosídeos, pois os aminoglicosídeos não conseguem penetrar nas paredes
celulares dessas bactérias. O tratamento
desses organismos exige a coadministração de um aminoglicosídeo com um inibidor
de síntese de parede celular (p. ex.,
penicilina, ampicilina, vancomicina) que facilitam a penetração do
aminoglicosídeo.
Os
antibióticos mais comumente utilizados nessa classe são amicacina, gentamicina
e tobramicina. Todos os três
antibióticos são utilizados no tratamento de infecções sistêmicas causadas por
bactérias Gram negativas sensíveis. A amicacina
tem a melhor atividade e é frequentemente reservada para o tratamento de
infecções causadas por bactérias Gram negativas que são resistentes à
gentamicina e à tobramicina. A estreptomicina
não é facilmente disponível, mas tem sido utilizada no tratamento da
tuberculose, tularemia e infecções causadas por Streptococcus ou Enterococcus
resistentes à gentamicina (em combinação com a penicilina).
A
resistência à ação antibacteriana dos aminoglicosídeos pode se desenvolver por
uma das quatro formas seguintes: (1) mutação no sítio de ligação do ribossomo,
(2) redução da entrada de antibiótico na célula, (3) aumento na eliminação do
antibiótico de dentro da célula, e (4) modificação enzimática do antibiótico. O mecanismo de resistência mais comum é o de modificação
enzimática de aminoglicosídeos. Esta é
realizada pela ação de fosfotransferases (APHs; sete descritas),
adeniltransferases (ANT s; quatro descritas) e acetiltransferases (AACs; quatro
descritas), nos grupos amino e hidroxila do antibiótico. As diferenças na atividade antibacteriana dos
aminoglicosídeos são determinadas por suas relativas sensibilidades a essas enzimas. Os outros mecanismos pelo qual as bactérias
desenvolvem resistência aos aminoglicosídeos são relativamente raros e exigem
mutações sistemáticas das múltiplas cópias dos genes ribossômicos, que existem
na célula bacteriana. A resistência causada pela inibição do transporte do
antibiótico para dentro da célula bacteriana é ocasionalmente observada em Pseudomonas,
porém é mais comum em bactérias anaeróbias.
Este mecanismo produz baixo nível
de resistência cruzada a todos os aminoglicosídeos. O efluxo ativo de aminoglicosídeos ocorre
somente em bactérias Gram negativas e é raramente observado.
Tetraciclina
As
tetraciclinas (Tab. 17-5) são antibióticos bacteriostáticos de amplo espectro
que inibem a síntese proteica em bactérias pela ligação reversível à unidade
30S do ribossomo, bloqueando desta forma a ligação do aminoacil-RNA de
transferência (RNAt) ao complexo ribossômico 30S-mRNA. As tetraciclinas (ou seja, tetraciclina,
doxiciclina, minociclina) são eficientes no tratamento de infecções causadas
por espécies de Chlamydia, Mycoplasma e Rickettsia e por outras bactérias Gram
positivas e Gram negativas. Todas as
tetraciclinas têm espectros de atividade similares, sendo as propriedades
farmacocinéticas as principais diferenças entre esses antibióticos (doxiciclina
e minociclina são bem absorvidas e possuem longas meia-vidas).
A
resistência às tetraciclinas pode ocorrer pela diminuição da penetração do
antibiótico para o interior da célula bacteriana, pelo efluxo ativo do
antibiótico para fora da célula, por alteração de sítio-alvo no ribossomo ou
por modificação enzimática do antibiótico.
Mutações no gene cromossomal que codificam a proteína porina da membrana
externa, OmpF, podem levar à resistência em nível baixo às tetraciclinas, como
a outros antibióticos (p. ex., β-lactâmicos,
quinolonas, cloranfenicol).
Pesquisadores
identificaram uma variedade de genes que controlam o efluxo ativo celular das
tetraciclinas em diferentes bactérias. Esta
é a causa mais comum de resistência. A resistência
às tetraciclinas pode resultar também da produção de proteínas semelhantes a
fatores de extensão que protegem a região 30S do ribossomo. Quando isto acontece, o antibiótico ainda pode
ligar-se ao ribossomo, mas a síntese de proteína não é interrompida.
Glicilciclinas
A
tigeciclina, o primeiro representante dessa classe de antibióticos, é um
derivado semissintético da minociclina. Inibe
a síntese de proteínas da mesma forma que as tetraciclinas.
A
tigeciclina tem uma alta afinidade de ligação ao ribossomo e é menos afetada
pelo efluxo e pela modificação enzimática.
Tem um amplo espectro de atividade contra bactérias Gram positivas, Gram
negativas e bactérias anaeróbias, embora Proteus, Morganella, Providencia e
Pseudomonas aeruginosa sejam geralmente resistentes a este fármaco.
Oxazolidinonas
As
oxazolidinonas são uma classe de antibióticos de espectro de ação restrito,
sendo a linezolida o agente de utilização atual. Linezolida bloqueia a
iniciação da síntese proteica, interferindo na formação do complexo de
iniciação constituído por RNAt, RNAm e ribossomo. O fármaco se liga à
subunidade 50S do ribossomo, que distorce o sítio de ligação do RNAt, inibindo desta
forma a formação do complexo de iniciação 70S.
Por causa deste mecanismo único, não ocorre resistência cruzada com
outros inibidores da síntese de proteínas.
Linezolida apresenta atividade contra todos os estafilococos,
estreptococos e enterococos (incluindo cepas resistentes a penicilinas,
vancomicina e aminoglicosídeos). Linezolida
é geralmente reservada para o tratamento de infecções causadas por enterococos
multirresistentes.
Cloranfenicol
Cloranfenicol
tem um amplo espectro antibacteriano, similar ao da tetraciclina, porém não é utilizado
comumente nos Estados Unidos. A razão
para este uso limitado é porque além de interferir na síntese proteica
bacteriana, pode interromper a síntese proteica nas células da medula óssea
humana e podem produzir discrasias sanguíneas como a anemia aplástica (um a cada
24.000 pacientes tratados). O
cloranfenicol exerce seu efeito bacteriostático ligando-se de forma reversível
ao componente peptidil transferase da subunidade 50S do ribossomo, bloqueando
desta forma a extensão do peptídeo. A
resistência ao cloranfenicol é observada em bactérias que produzem a
acetiltransferase, codificadas em plasmídios e que catalisam a acetilação do
grupo 3-hidroxi do cloranfenicol. O produto é incapaz de se ligar à subunidade
50S.
A
ocorrência de mutações que alteram as proteínas porinas da membrana externa,
causando a menor permeabilidade ao fármaco em bacilos Gram negativos não é tão comum.
Macrolídeos
A eritromicina,
derivada do Streptomyces erythreus, é o modelo de antibiótico da classe dos macrolídeos
(Tab. 17-5 ). A estrutura básica dessa classe de
antibióticos é um anel lactona macrocíclico ligado a dois açúcares, desosamina
e cladinose. A modificação da estrutura
do macrolídeo levou ao desenvolvimento da azitromicina e da claritromicina. Os macrolídeos exercem suas funções pela
ligação reversível à região 23S do RNA ribossomal, bloqueando a extensão do
polipeptídio. A resistência aos
macrolídeos comumente ocorre pela metilação da região 23S do RNA ribossomal,
impedindo a sua ligação com o antibiótico.
Outros mecanismos de resistência incluem a inativação de macrolídeos por
enzimas (p. ex., esterases, fosforilases,
glicosidases) ou por mutações na região 23S do RNAr e nas proteínas do
ribossomo. Os macrolídeos são
antibióticos bacteriostáticos com amplo espectro de atividade. Têm sido utilizados no tratamento de
infecções pulmonares causadas por Mycoplasma, Legionella e Chlamydia, como para
tratar infecções causadas por espécies de Campylobacter e por bactérias Gram
positivas em pacientes alérgicos à penicilina.
A maioria das bactérias Gram negativas é resistente aos macrolídeos. A azitromicina e a claritromicina também vêm
sendo utilizadas para o tratamento de infecções causadas por micobactérias (p.
ex., complexo Mycobacterium avium).
Cetolídeos
Os
cetolídeos são derivados semissintéticos da eritromicina, modificada para
aumentar a estabilidade em meio ácido. A
telitromicina é atualmente o único cetolídeo disponível para uso nos Estados
Unidos. Como os macrolídeos, a telitromicina se liga à subunidade 50S do
ribossomo e bloqueia a síntese proteica.
As mutações na região 23S do RNAr e nas proteínas do ribossomo podem
levar à resistência. A telitromicina apresenta boa atividade contra Staphylococcus
(exceto para as cepas que possuem resistência constitutiva para a eritromicina),
Streptococccus pneumoniae, outros patógenos respiratórios (p. ex., Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis),
bacilos Gram positivos e alguns anaeróbios. Não é ativa contra Bacteroides fragilis
e a maioria dos bacilos Gram negativos aeróbios (p. ex., Enterobacteriaceae, Pseudomonas, Acinetobacter,
Stenotrophomonas). A telitromicina apresenta, também, uma boa atividade contra patógenos
intracelulares (p. ex., Legionella,
Mycoplasma, Chlamydia, Chlamydophila), Rickettsia, Bartonella, Coxiella,
Francisella e M. avium.
Clindamicina
A clindamicina
(antibiótico da família das lincosamidas) é um derivado da lincomicina, que foi
originalmente isolada a partir de Streptomyces lincolnensis. Como o cloranfenicol e os macrolídeos, a
lincomicina bloqueia a extensão da proteína pela sua ligação ao ribossomo 50S. Isto
inibe a peptidiltransferase interferindo com a ligação do complexo aminoácido
acy l-RNAt. A clindamicina é ativa contra estafilococos e bacilos Gram
negativos anaeróbios, mas é geralmente inativa contra as bactérias Gram
negativas aeróbias. A metilação da
região 23S do RNA ribossomal é a origem da resistência bacteriana. Tanto a eritromicina quanto a clindamicina
podem induzir resistência enzimática (também mediada por plasmídio) e, portanto,
observa-se resistência cruzada entre essas duas classes de antibióticos.
Estreptograminas
As
estreptograminas são uma classe de peptídeos cíclicos produzidos por espécies
de Streptomyces. Estes antibióticos são
administrados como uma combinação de dois componentes, estreptograminas grupo A
e grupo B, que agem sinergicamente para inibir a síntese proteica. O antibiótico desta classe, comumente
disponível é a quinupristina-dalfopristina.
A dalfopristina se liga à subunidade 50S do ribossomo e induz alterações
que facilitam a ligação da quinupristina. A dalfopristina impede a extensão das
cadeias peptídicas e a quinupristina inicia a liberação prematura das cadeias
peptídicas pelo ribossomo. Esta
combinação de fármacos é ativa contra estafilococos, estreptococos e E. Faecium (mas não contra E. Faecalis).
A utilização deste antibiótico tem sido restrita principalmente ao
tratamento de infecções causadas por E. Faecium
resistentes à vancomicina.
Inibição da Síntese de Ácido Nucleico
Quinolonas
As
quinolonas (Tab. 17-6) são uma das
classes de antimicrobianos mais utilizadas.
Estes agentes quimioterápicos sintéticos inibem a DNA topoisomerase tipo
II (girase) ou topoisomerase tipo IV das bactérias, que são necessárias para a
replicação do DNA, recombinação e reparo. A subunidade A da DNA girase é o alvo
principal das quinolonas em bactérias Gram negativas, enquanto a topoisomerase
tipo IV é o principal alvo em bactérias Gram positivas. A primeira quinolona empregada na prática
clínica foi o ácido nalidíxico. Este
fármaco foi utilizado para o tratamento de infecções urinárias causadas por uma
variedade de bactérias Gram negativas, mas a resistência a esse fármaco
desenvolveu-se rapidamente. Este fármaco
foi substituído por quinolonas mais novas e mais ativas como a ciprofloxacina,
levofloxacina, gatifloxacina e moxifloxacina.
As novas quinolonas (denominadas de fluoroquinolonas) foram feitas a
partir de modificações do núcleo com dois anéis. Estes antimicrobianos apresentam excelente
atividade contra bactérias Gram positivas e Gram negativas, embora possa
rapidamente desenvolver resistência em Pseudomonas, estafilococos resistentes à
oxacilina e enterococos. Particularmente, as novas quinolonas de espectro
ampliado apresentam significativa atividade contra bactérias Gram positivas.
Tabela 17-6 Quinolonas
A
resistência às quinolonas é mediada por mutações cromossômicas em genes
estruturais da DNA girase e da topoisomerase tipo IV. Outros mecanismos incluem a superexpressão de
bombas de efluxo que eliminam o fármaco de dentro da célula e diminuem a
entrada do fármaco por mutações nos genes regulatórios da permeabilidade de
membrana. Cada um desses mecanismos é primariamente mediado pelo cromossomo.
Rifampicina e Rifabutin
A
rifampicina, um derivado semissintético da rifampicina B produzida pelo
Streptomyces mediterranei, se liga à RNA-polimerase DNA-dependente e inibe a
iniciação da síntese de RNA. A rifampicina é bactericida para Mycobacterium
tuberculosis e é muito ativa contra os cocos Gram positivos, incluindo
estafilococos e estreptococos.
Como
a resistência pode se desenvolver rapidamente, a rifampicina é utilizada em combinação
com um ou mais antibióticos eficientes. A
resistência à rifampicina em bactérias Gram positivas resulta da mutação no
gene cromossômico que codifica a subunidade b da RNA-polimerase. As bactérias
Gram negativas são intrinsecamente resistentes à rifampicina por causa da
limitada penetração deste antibiótico hidrofóbico. O Rifabutin, um derivado da rifampicina,
possui similar atividade e espectro. É particularmente ativo contra M. avium.
Metronidazol
O metronidazol
foi introduzido, originalmente, como um agente de uso oral para o tratamento de
vaginites por Trichomonas. Entretanto,
este antibiótico mostrou ser eficiente também no tratamento de amebíases,
giardíases e graves infecções causadas por bactérias anaeróbias (incluindo
aquelas causadas por B. fragilis). O
metronidazol não apresenta atividade significativa contra bactérias aeróbias ou
facultativamente anaeróbias. As
propriedades antimicrobianas do metronidazol ocorrem pela redução de seu grupo nitro
em nitrorredutases bacterianas, produzindo compostos tóxicos que rompem o DNA
do hospedeiro. A resistência pode
resultar tanto da diminuição da entrada do antimicrobiano quanto da eliminação
dos compostos citotóxicos antes que estes possam interagir com o DNA do
hospedeiro.
Antimetabólitos
As
sulfonamidas são antimetabólitos que competem com o ácido p-aminobenzoico, impedindo
a síntese do ácido fólico exigido por certos microrganismos. Como os mamíferos não sintetizam ácido fólico
(necessário como uma vitamina), as sulfonamidas não interferem com o
metabolismo das células dos mamíferos. O trimetoprim é outro antimetabólito que
interfere com o metabolismo do ácido fólico pela inibição da di-hidrofolato
redutase, impedindo a conversão do di-hidrofolato para tetrahidrofolato. Esta inibição bloqueia a formação de
timidina, algumas purinas, metionina e glicina.
O trimetoprim é comumente utilizado em combinação com o sulfametoxazol para
produzir uma combinação sinergética ativa em duas etapas da síntese de ácido
fólico. A dapsona e o ácido p-aminossalicílico
são também antifolatos que provaram ser úteis para o tratamento de infecções
por micobactérias.
As
sulfonamidas são eficientes contra uma ampla variedade de organismos Gram
positivos e Gram negativos, tais como Nocardia, Chlamydia e alguns protozoários. As sulfonamidas de curta duração estão entre
os fármacos de escolha para o tratamento de infecções agudas do trato urinário
causadas por bactérias sensíveis, como E. coli. O sulfametoxazol-trimetoprim é
eficiente contra uma ampla variedade de microrganismos Gram positivos e Gram
negativos, sendo o fármaco de escolha para o tratamento de infecções agudas e
crônicas do trato urinário. A combinação
também é eficiente no tratamento de infecções causadas por Pneumocystis carinii,
infecções bacterianas do trato respiratório inferior, otites médias e gonorreia
não complicada. A resistência a esses antimicrobianos pode ocorrer por uma
variedade de mecanismos.
Pseudomonas,
por exemplo, são resistentes por possuírem barreiras de permeabilidade. Uma redução na afinidade do di-hidrofolato
redutase pode ser a origem da resistência ao trimetoprim. Além disso, as
bactérias que utilizam timidina exógena (p.
ex., enterococos) são, também, intrinsecamente resistentes.
Outros Antibióticos
A clofazimina
é um antibiótico lipofílico que se liga ao ácido desoxirribonucleico (DNA) de
micobactérias. É altamente ativa contra
M. Tuberculosis, sendo o fármaco de
primeira escolha para o tratamento de infecções pelo M. Leprae e o antibiótico secundário recomendado
para o tratamento de infecções causadas por outras espécies de micobactérias.
A
pirazinamida (PZA) é ativa contra M. Tuberculosis
em pH baixo, como encontrado nos fagolisossomas. A forma ativa deste antibiótico é o ácido
pirazinoico, produzido quando a PZA é hidrolisado no fígado. É desconhecido o
mecanismo pelo qual a PZA exerce sua função.
Questões
1.
Descreva o mecanismo de ação dos seguintes antimicrobianos: penicilina, vancomicina, isoniazida, gentamicina,
tetraciclina, eritromicina, polimixina, ciprofloxacina e sulfametoxazol.
1. A penicilina interfere na síntese da parede
celular pela ligação específica às proteínas ligadoras de penicilina (PBPs), as
enzimas reguladoras (exemplo:
transpeptidases, transglicosilases, carboxipeptidases) responsáveis pela
construção da camada de peptidoglicano da parede celular. A vancomicina também interrompe a síntese do
peptidoglicano na parede celular, neste caso em bactérias Gram positivas. Porém, isto só é realizado quando a vancomicina
interage com a terminação D-alanina-D-alanina das cadeias pentapeptídicas laterais,
que interferem na formação das pontes que ligam as cadeias do peptidoglicano. A isoniazida inibe a síntese de ácidos
micólicos, um importante componente da parede celular de micobactérias. A
gentamicina, tetraciclina e eritromicina inibem a síntese proteica em
bactérias. A gentamicina se liga de forma irreversível às proteínas da região
30S do ribossomo. Esta ligação aos ribossomos produz dois efeitos: a produção de proteínas anômalas como
resultado dos erros de leitura do RNA mensageiro (mRNA) e a interrupção da
síntese proteica por conta do ribossomo liberar prematuramente o mRNA. A
tetraciclina liga-se de forma reversível à unidade 30S do ribossomo, bloqueando
assim a ligação do aminoacil-RNA de transferência (RNAt) ao complexo
ribossômico 30S-RNAm. A eritromicina, um
antibiótico da classe dos macrolídeos, liga-se de forma reversível à região 23S
do RNA ribossomal, bloqueando a extensão do polipeptídio. As polimixinas inserem-se nas membranas
bacterianas como detergentes, interagindo com os lipopolissacarídeos e os
fosfolipídios na membrana externa, produzindo aumento da permeabilidade celular
e, eventualmente, a morte celular. A
ciprofloxacina, que é uma fluoroquinolona, inibe as enzimas DNA topoisomerase
tipo II (girase) das bactérias, que são necessárias para a replicação do DNA,
recombinação e reparo. O sulfametoxazol
é um antimetabólito que interfere com a síntese do ácido fólico.
2.
Cite os três mecanismos pelos quais as bactérias se tornam resistentes
aos antibióticos β-lactâmicos. Qual é o
mecanismo responsável pela resistência à oxacilina em Staphylococcus? E pela resistência ao imipenem em
Pseudomonas? E resistência à penicilina
em S. pneumoniae?
2. As
bactérias podem se
tornar resistentes aos
antibióticos beta-lactâmicos pela
(1) hidrólise do antibiótico
por beta-lactamases, (2)
modificação do alvo
de ligação do
antibiótico (PBP), por intermédio de
uma nova PBP
adquirida pelo organismo
ou uma PBP
existente alterada, que produz
uma PBP enzimaticamente ativa
e que não é reconhecida
pelo antibiótico, ou (3)
prevenção do acesso
ao alvo, criando
uma barreira de permeabilidade (exemplo:
mudança nas porinas da
parede celular de
Gram negativos). Staphylococcus
aureus se tornam resistentes à oxacilina e beta-lactâmicos relacionados, pela
aquisição de uma nova PBP que é enzimaticamente ativa (p. ex., pode ser usada para construir a camada
de peptidoglicano na parede celular), mas não é ligada e inativada pelo
antibiótico. Streptococcus pneumoniae se torna resistente à penicilina quando
adquire uma PBP alterada (por recombinação). Pseudomonas aeruginosa pode se tornar
resistente ao imipenem por um ou dois mecanismos: (1) aquisição de beta-lactamases
que degradam os antibióticos da classe dos carbapenens; ou (2) alteração da membrana
externa da parede celular (mutação da porina) que impede a entrada de
antibióticos dentro da célula.
3.
Quais os três mecanismos pelos quais os organismos desenvolvem
resistência a aminoglicosídeos?
3. Os organismos podem se tornar resistentes aos
aminoglicosídeos pela: (1) modificação enzimática do antibiótico (o método mais
comum), (2) redução da entrada de antibiótico na célula bacteriana, (3) aumento
na eliminação do antibiótico de dentro da célula ou, (4) mutação no sítio de
ligação do ribossomo.
4. Que mecanismo é responsável pela
resistência às quinolonas?
4. As bactérias se tornam resistentes às
quinolonas por mutações cromossômicas em genes estruturais da DNA girase e da
topoisomerase tipo IV. Outros mecanismos
menos comuns incluem a superexpressão de bombas de efluxo que eliminam o
antibiótico de dentro da célula e diminuem a entrada dos mesmos por mutações
nos genes que regulam a permeabilidade da membrana.
5. Como o trimetoprim e as
sulfonamidas diferem em seus mecanismos de ação?
5. O trimetoprim interfere com o metabolismo do
ácido fólico pela inibição da dihidrofolato redutase, impedindo a conversão do
dihidrofolato para tetrahidrofolato. As
sulfonamidas competem com o ácido p-aminobenzoico, impedindo também a síntese
do ácido fólico, mas em uma etapa diferente.
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