O
diagnóstico laboratorial de doenças bacterianas requer que a amostra apropriada
seja coletada adequadamente, transportada rapidamente para o laboratório e
processada de maneira a maximizar a detecção dos patógenos mais prováveis.
A obtenção da amostra apropriada e a rápida entrega ao laboratório clínico primordialmente são da responsabilidade do médico do paciente, enquanto que o microbiologista clínico seleciona as condições de transporte adequado e o método de detecção (ou seja, microscopia, cultura, detecção de antígeno ou anticorpo e testes baseados em ácidos nucleicos). Estas responsabilidades não são mutuamente exclusivas. O microbiologista deve estar preparado para instruir o médico sobre as amostras a serem coletadas quando suspeitar de um diagnóstico particular. O médico deve fornecer informações sobre o diagnóstico clínico ao microbiologista, para que os testes apropriados sejam selecionados. Este capítulo tem o objetivo de fornecer uma visão geral sobre a coleta e transporte da amostra, assim como os métodos utilizados no laboratório de microbiologia clínica para a detecção e identificação de bactérias. Em virtude de a cobertura exaustiva deste assunto ir além do âmbito deste capítulo, o aluno poderá ampliar seu conhecimento consultando as citações bibliográficas e os capítulos individuais deste livro, relacionados ao tema, para obter informações mais detalhadas.
A obtenção da amostra apropriada e a rápida entrega ao laboratório clínico primordialmente são da responsabilidade do médico do paciente, enquanto que o microbiologista clínico seleciona as condições de transporte adequado e o método de detecção (ou seja, microscopia, cultura, detecção de antígeno ou anticorpo e testes baseados em ácidos nucleicos). Estas responsabilidades não são mutuamente exclusivas. O microbiologista deve estar preparado para instruir o médico sobre as amostras a serem coletadas quando suspeitar de um diagnóstico particular. O médico deve fornecer informações sobre o diagnóstico clínico ao microbiologista, para que os testes apropriados sejam selecionados. Este capítulo tem o objetivo de fornecer uma visão geral sobre a coleta e transporte da amostra, assim como os métodos utilizados no laboratório de microbiologia clínica para a detecção e identificação de bactérias. Em virtude de a cobertura exaustiva deste assunto ir além do âmbito deste capítulo, o aluno poderá ampliar seu conhecimento consultando as citações bibliográficas e os capítulos individuais deste livro, relacionados ao tema, para obter informações mais detalhadas.
Coleta, Transporte e Processamento de
Amostras
As instruções para coleta
apropriada e transporte de amostras, desde o local da coleta até o laboratório
clínico, estão resumidas no texto que se segue e na Tabela 16-1.
Sangue
A
cultura de sangue (hemocultura) é um dos procedimentos mais importantes realiza
ados no laboratório de microbiologia clínica.
O sucesso deste teste está diretamente relacionado com os métodos
utilizados para coletar a amostra de sangue.
Por exemplo, 40% das culturas são positivas quando 20 mL de sangue, em
vez de 10 mL, são inoculados no meio de
hemocultura. Isto ocorre porque mais da
metade de todos os pacientes sépticos apresentam menos que um organismo por
mililitro de sangue. Cerca de 20 mL de
sangue deve ser coletado de um adulto para cada hemocultura e volumes
proporcionalmente menores devem ser coletados de crianças e recém-nascidos. A
assepsia apropriada da pele do paciente é importante, uma vez que muitos pacientes hospitalizados são
suscetíveis a infecções com organismos que colonizam a pele.
Os
termos bacteremia e fungemia são definidos como a presença de bactérias e
fungos, respectivamente, no sangue; estas infecções são referidas coletivamente
como septicemia. Estudos clínicos demonstraram que a septicemia pode ser
contínua ou intermitente. Septicemia contínua ocorre primariamente em pacientes
com infecções intravasculares (p. ex., endocardite, tromboflebite séptica,
infecções associadas a cateteres intravasculares) ou com sepse severa (p. ex.,
choque séptico). Septicemia intermitente ocorre em pacientes com infecções
localizadas (p. ex., pulmões, sistema urinário, tecidos moles). A cronometragem da coleta não é importante para
pacientes com septicemia contínua, mas é importante para pacientes com
septicemia intermitente. Além disso, em
razão dos sinais clínicos da sepse (p.
ex., febre, calafrios e hipotensão) serem uma resposta à liberação de
endotoxinas ou exotoxinas dos organismos, estes sinais ocorrem uma hora após o
microrganismo entrar na corrente sanguínea.
Assim, poucos ou nenhum organismo deve estar no sangue quando o paciente
se torna febril. Por esta razão,
recomenda-se que duas a três amostras de sangue sejam coletadas em tempos
aleatórios durante um período de 24 horas.
A
maioria das amostras de sangue é inoculada diretamente em frascos de cultura
contendo meio de enriquecimento. Para
garantir a máxima recuperação de organismos importantes, o inóculo deve ser
realizado em duplicata (10 mL de sangue por frasco). Quando estes frascos inoculados são recebidos
no laboratório, devem ser incubados a 37°C e inspecionados em intervalos regulares
para a observação do crescimento microbiano.
Na maioria dos laboratórios, este procedimento é realizado em
equipamentos de hemocultura automatizados.
Quando o crescimento é detectado, as culturas são inoculadas em meio
sólido para isolar e identificar o microrganismo e para realiza ar o teste de
suscetibilidade aos antimicrobianos. A
maioria dos isolados com significado clínico é detectada após 1 a 2 dias de
incubação. Porém, todas as culturas devem
ser incubadas por um mínimo de 5 a 7 dias.
Incubações mais longas geralmente são desnecessárias. Em virtude de
poucos organismos estarem normalmente presentes no sangue de um paciente
séptico, não vale realizar uma coloração de Gram da amostra de sangue para
análise microscópica.
Fluido Cerebrospinal
A
meningite bacteriana é uma doença grave associada à alta morbidade e
mortalidade, se o diagnóstico etiológico for retardado Em virtude de alguns
patógenos comuns serem lábeis (p. ex., Neisseria meningites, Streptococcus
pneumoniae), amostras de fluido cerebrospinal devem ser tratadas imediatamente
após serem coletadas. Em nenhuma
circunstância a amostra deve ser refrigerada ou incubada diretamente. Deve-se
efetuar uma assepsia da pele do paciente antes da punção lombar e o líquido
cefalorraquidiano coletado deve ser dispensado em tubos estéreis com tampa de
rosca. Quando a amostra é recebida no
laboratório de microbiologia, esta é concentrada por centrifugação e o
sedimento é utilizado para inocular o meio bacteriológico e preparar a lâmina
com a coloração de Gram. Se a presença
de microrganismos é observada microscopicamente ou por cultura, o laboratorista
deve notificar o médico imediatamente.
Outros Fluidos Normalmente Estéreis
Uma
variedade de outros fluidos normalmente estéreis pode ser coletada para a
cultura bacteriológica, incluindo fluidos abdominal (peritoneal), torácico
(pleural), sinovial e pericárdico. Se um grande volume de fluidos pode ser
coletado por aspiração (p. ex., fluidos
abdominal ou torácico), este deve ser inoculado em frascos de hemocultura
contendo meio nutriente. Uma pequena
alíquota também deve ser enviada ao laboratório em um tubo estéril para que
técnicas de coloração (p. ex., Gram,
resistência ao álcool-ácido) possam ser realizadas. Muitos microrganismos estão associados a
infecções nestes locais, incluindo misturas polimicrobianas de organismos
aeróbios e anaeróbios. Por esta razão, a
coloração é útil para identificar os organismos responsáveis pela
infecção. Em razão de que relativamente
poucas células de microrganismos possam estar presentes na amostra (como um
resultado de diluição dos microrganismos ou eliminação pela resposta imune), é
importante inocular o maior volume de fluido possível. No entanto, se apenas pequenas quantidades de
fluidos são coletadas, a amostra pode ser inoculada diretamente em meio agar e
em um tubo contendo meio de enriquecimento. Em virtude da possibilidade da
presença de anaeróbios na amostra (especialmente amostras obtidas de pacientes com
infecções intra-abdominais ou pulmonares), a amostra não deve ser exposta ao
oxigênio.
Amostras do Trato Respiratório
Superior
A
maioria das infecções bacterianas da faringe é causada por Streptococcus do
grupo A. Outras bactérias que podem causar faringite incluem Corynebacterium
diphtheriae, B. Pertussis, Neisseria
gonorrhoeae, Chlamydophila pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae. No entanto, técnicas especiais geralmente são
necessárias para recuperar esses organismos. Outras bactérias potencialmente patogênicas,
como Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae,
Enterobacteriaceae e Pseudomonas aeruginosa, podem estar presentes na
orofaringe, mas raramente causam faringite. Swabs de Dacron ou alginato de
cálcio devem ser utilizados para coletar amostras da faringe. As regiões tonsilar, faringe posterior e
qualquer exsudato ou área ulcerativa devem ser avaliadas. A contaminação de amostras com a saliva deve
ser evitada, pois bactérias da saliva podem crescer excessivamente ou inibir o
crescimento de estreptococos do grupo A.
Se uma pseudomembrana estiver presente (p. ex., em infecções por C. diphtheriae), uma
parte deve ser retirada e inoculada em cultura. Estreptococos do grupo A e C.
diphtheriae são muito resistentes à dessecação e, por isto, precauções
especiais não são necessárias para o transporte da amostra até o laboratório. Em contraste, amostras coletadas para o
isolamento de B. Pertussis e N. gonorrhoeae
devem ser inoculadas em meios de cultura imediatamente após a coleta e antes de
serem enviadas ao laboratório. As
amostras obtidas para o isolamento de C.
Pneumoniae e M. pneumoniae devem ser transportadas em meios especiais. Estreptococos
do grupo A podem ser detectados diretamente na amostra clínica por imunoensaios
com antígenos específicos para este grupo.
Embora estes testes sejam muito específicos e facilmente disponíveis,
são também pouco sensíveis e não podem ser utilizados para excluir o
diagnóstico confiável de faringite estreptocócica do grupo A. Em outras palavras, um teste negativo deve
ser confirmado por cultura.
Outras
vias respiratórias superiores podem envolver a epiglote e os seios faciais. A
completa obstrução de vias aéreas pode ser induzida por tentativas de coleta de
material da epiglote para cultura (particularmente em crianças), assim, estas
culturas nunca devem ser realizadas. O diagnóstico
específico de uma infecção sinusal requer (1) a aspiração direta do seio, (2) transporte
anaeróbio adequado da amostra para o laboratório (utilizando um sistema que
evite a exposição de anaeróbios ao oxigênio e a dessecação), e (3) processamento
rápido. As culturas de material da nasofaringe ou orofaringe não são úteis e
não devem ser realizadas. S. Pneumoniae,
H. Influenzae, Moraxella catarrhalis, S. Aureus e anaeróbios são os patógenos mais
comuns causadores de sinusite.
Amostras do Trato Respiratório
Inferior
Uma
variedade de técnicas pode ser utilizada para coletar amostras do trato
respiratório inferior. Estas incluem
expectoração, indução com solução salina, broncoscopia e aspiração direta
através da parede torácica. As amostras
expectoradas devem ser analisadas microscopicamente, uma vez que contaminação por bactérias das vias
aérea superiores pode ocorrer durante a coleta.
Amostras contendo muitas células epiteliais escamosas e sem o predomínio
de bactérias em associação com neutrófilos não devem ser processadas para a cultura. A presença de células epiteliais escamosas
indica que a amostra foi contaminada com saliva. Estas contaminações podem ser evitadas pela
obtenção de amostra utilizando broncoscópios especialmente concebidos para esse
fim ou pela aspiração pulmonar direta.
Se uma infecção pulmonar causada por anaeróbios é suspeita, estes
procedimentos invasivos devem ser utilizados.
Caso contrário, a contaminação da amostra por microrganismos das vias
aéreas superiores tornaria a amostra inútil.
A maioria dos agentes patogênicos do trato respiratório inferior cresce
rapidamente (2 a 3 dias), porém, algumas bactérias de crescimento lento, tais como
micobactérias ou Nocardia, exigirão incubação prolongada.
Ouvido e Olho
A
tipanocentese (ou seja, a aspiração de fluido do ouvido médio) é necessária
para fazer o diagnóstico específico de uma infecção do ouvido médio. Porém, este procedimento é desnecessário na
maioria dos pacientes, uma vez que os
agentes patogênicos mais comuns que causam estas infecções (S. Pneumoniae, H. Influenzae e M. Catarrhalis) podem ser tratados empiricamente. Infecções do ouvido externo são normalmente causadas
por P. Aeruginosa (“ouvido de nadador”)
ou S. Aureus. A amostra adequada para cultura pode ser
obtida por raspagem da área envolvida do ouvido.
A
coleta de amostras para o diagnóstico de infecções oculares é difícil, pois a
amostra obtida geralmente é muito pequena e relativamente poucos organismos
podem estar presentes. Amostras de superfície do olho devem ser coletadas com o
auxílio de um swab antes que anestésicos tópicos sejam aplicados, seguida por
raspagem da córnea, quando necessário. Amostras intraoculares são coletadas
pela aspiração direta do olho. Os meios
de cultura devem ser inoculados no local da coleta e antes de serem enviados
para o laboratório. Embora a maioria dos patógenos oculares comuns cresça
rapidamente (p. ex., S. Aureus, S.
Pneumoniae, H. influenzae, P. Aeruginosa,
Bacillus cereus), alguns podem exigir incubação prolongada (p. ex., estafilococos coagulase negativa) ou a
utilização de meios de cultura específicos (N. gonorrhoeae, Chlamydia
trachomatis).
Feridas, Abscessos e Tecidos
Feridas
abertas com secreção podem ser frequentemente contaminadas com agentes patogênicos
não relacionados àqueles do processo infeccioso. Por isso, é importante coletar amostras em
camadas profundas da ferida após a assepsia da superfície. Sempre que possível, a coleta por swab deve
ser evitada, porque é difícil obter uma amostra representativa sem contaminação
por organismos colonizadores da superfície. Do mesmo modo, abscessos fechados devem
ser coletados por aspiração tanto do centro quanto da parede do abscesso. A simples coleta de pus de um abscesso
geralmente não é adequada, porque a maioria dos organismos replica-se
ativamente na base do abscesso e não no centro.
Secreções produzidas em infecções de tecidos moles podem ser coletadas
por aspiração. Se o material do abscesso
não for obtido, pode ser realizada a infusão de uma pequena quantidade de soro
fisiológico no tecido e, em seguida, o material pode ser aspirado para a
cultura. Salina contendo agentes
bactericidas não deve ser utilizada. Sempre que possível, os tecidos devem ser
obtidos a partir de áreas representativas do processo infeccioso, com múltiplas
amostras coletadas.
A
amostra de tecido deve ser transportada em um recipiente estéril com tampa de
rosca e quando uma pequena amostra (p. ex., amostra de biopsia) é coletada,
salina estéril deve ser acrescentada para evitar a dessecação. Uma amostra de
tecido também deve ser reservada para exame histológico. Em razão de a coleta de amostras de tecido
necessitar de procedimentos invasivos, todos os esforços devem ser realizados
para coletar a amostra apropriada e assegurar que todos os microrganismos clinicamente
significativos para a respectiva infecção, sejam inoculados no meio de cultura.
Isto exige uma comunicação próxima entre o médico e o microbiologista.
Urina
A
urina é uma das amostras mais submetidas à cultura. Em virtude de bactérias potencialmente
patogênicas colonizarem a uretra, o primeiro jato de urina por coleta
espontânea ou o primeiro volume coletado por cateterismo devem ser descartados. Patógenos do trato urinário também podem
crescer na urina e, por isto, o transporte de amostras para o laboratório deve
ser imediato. Se a amostra não puder ser
cultivada imediatamente, essa deve ser refrigerada ou preservada pela adição de
um agente bacteriostático urinário. Uma
vez que a amostra é recebida no
laboratório, 1 a 10 μL deverão ser inoculados em cada cultura (geralmente em
agar seletivo e não seletivo). Este
procedimento permite que o número de organismos na urina seja quantificado, o
que é útil para avaliar o significado clínico de um isolado bacteriano embora
um pequeno número de organismos em um paciente com piúria também possa ser
clinicamente significativo. Numerosos
procedimentos de rastreamento na urina (p.
ex., testes bioquímicos, colorações para microscopia) foram
desenvolvidos e são amplamente utilizados.
No entanto, esses procedimentos não são recomendados, pois não sensíveis
na detecção de bacteriúrias de baixa contagem, mas clinicamente significativas.
Amostras do Trato Genital
Apesar
da diversidade de bactérias associadas a doenças sexualmente transmissíveis, a maioria
dos laboratórios se concentra na detecção de N.
Gonorrhoeae e C. Trachomatis. Tradicionalmente
este procedimento era realizado pela inoculação da amostra em meios seletivos
para esses microrganismos. Entretanto,
este processo é lento, necessitando de 2 dias ou mais para a obtenção de uma
cultura positiva e ainda um tempo maior para identificação definitiva do
isolado. A cultura também é considerada
insensível, pois os organismos são extremamente lábeis e morrem rapidamente
quando transportados em condições subótimas. Por estas razões, uma variedade de
métodos alternativos à cultura são utilizados atualmente. Os métodos mais populares são procedimentos
envolvendo a amplificação de ácidos nucleicos (p. ex., amplificação de
sequências espécies-específicas de ácido desoxirribonucleico [DNA] pela reação
em cadeia da polimerase e por outros métodos moleculares). A subsequente
detecção por sondas das sequências amplificadas é sensível e específica. No entanto, uma contaminação cruzada pode
ocorrer se os procedimentos não forem cuidadosamente controlados. Se a urina é utilizada para esses testes, o
primeiro jato de urina deve ser testado e não o jato mediano (como é utilizado
para a cultura).
Outra
bactéria relevante que provoca a doença sexualmente transmitida é Treponema pallidum,
o agente etiológico da sífilis. Este
organismo não pode ser cultivado em laboratório clínico, o diagnóstico deve ser
realizado por microscopia ou sorologia. O
material coletado das lesões deve ser examinado por microscopia de campo escuro,
pois o organismo é muito delgado para ser detectado por microscopia ótica
convencional. Além disso, o organismo
morre rapidamente quando exposto ao ar e, portanto, o exame microscópico deve
ser realizado no momento em que a amostra é coletada.
Amostras Fecais
Uma
grande variedade de bactérias pode causar infecções gastrointestinais. Para que estas bactérias possam ser
recuperadas em cultura, amostras adequadas de evacuação espontânea devem ser
coletadas (geralmente isto não é um problema em pacientes com diarreia), transportadas
para o laboratório, de uma forma que garanta a viabilidade do organismo infectante,
e inoculadas em meios seletivos apropriados. Swabs retais não devem ser
utilizados, pois diversos meios seletivos devem ser inoculados para que os
múltiplos agentes patogênicos possíveis possam ser recuperados. Desta maneira, a quantidade de fezes coletada
por um swab seria insuficiente.
A
evacuação espontânea deve ser coletada em um frasco limpo e, em seguida, transferida
para um recipiente hermeticamente fechado e impermeável. As amostras devem ser transportadas
imediatamente para o laboratório para prevenir acidificação das fezes (causada pelo
metabolismo das bactérias), que é tóxica para alguns organismos (p. ex., Shigella). Se um atraso no transporte está previsto, as
fezes devem ser misturadas a um conservante, como o tampão fosfato contendo
glicerol ou o meio de transporte Cary-Blair.
Em geral, o transporte rápido das amostras para o laboratório é mais
adequado que qualquer outro meio de transporte.
É
importante notificar o laboratório se um patógeno entérico particular é
suspeito, pois isto auxiliará na seleção do meio de cultura apropriado. Por exemplo, embora possa haver crescimento
de Vibrio spp. Em meios comuns
utilizados na cultura de amostras de evacuação, o cultivo em meios seletivos
para Vibrio facilita o rápido isolamento e identificação deste organismo. Além disso, alguns organismos não são
isolados rotineiramente por procedimentos laboratoriais. Por exemplo, Escherichia coli enterotoxigênica
pode crescer em meios de cultura rotineiros, mas não seria facilmente
distinguida de uma estirpe de E. Coli
não patogênica. Do mesmo modo, não se
esperaria encontrar nas fezes microrganismos em que as doenças respectivas são
causadas por toxinas liberadas no alimento e não pelo crescimento do microrganismo
no trato gastrintestinal (p. ex., S. Aureus,
Bacillus cereus). O microbiologista deve
ser capaz de escolher o teste adequado
(p. ex., cultura, detecção de toxina) se
o agente patogênico específico for indicado. Clostridium difficile constitui
uma causa significativa de doença gastrintestinal associada à
antibioticoterapia. Embora esse
microrganismo possa ser cultivado a partir de amostras de evacuação, quando as
amostras são prontamente enviadas ao laboratório, a maneira mais específica
para diagnosticar a infecção em extratos fecais é pela detecção de toxinas
responsáveis pela doença produzida por C. difficile. Em virtude de muitas
bactérias patogênicas e não patogênicas estarem presentes em amostras fecais,
são necessários pelo menos 3 dias para que o patógeno entérico seja a isolado e
identificado. Por esta razão,
coproculturas são utilizadas para confirmar o diagnóstico clínico e a terapia,
se indicada, não deve ser adiada em função do resultado da cultura.
Detecção e Identificação Bacteriana
A
detecção de bactérias em amostras clínicas é realizada por cinco procedimentos
gerais: (1) microscopia, (2) detecção de antígenos bacterianos, (3) detecção de
ácidos nucleicos específicos de bactérias, (4) cultura e (5) detecção de uma
resposta imunológica à bactéria (sorologia).
As técnicas específicas utilizadas para estes procedimentos foram descritas
em capítulos anteriores e não serão repetidas neste capítulo. No entanto, a Tabela 16-2 resume o valor relativo de cada procedimento
para a detecção de organismos discutidos.
Embora
muitos organismos específicos possam ser identificados por uma variedade de técnicas,
o procedimento mais comum utilizado em laboratórios de diagnóstico consiste em identificar
um organismo isolado em cultura por testes bioquímicos. Acreditamos que a maioria dos alunos usuários
deste livro-texto não está interessada nos detalhes da identificação bioquímica. Aqueles que estiverem interessados devem
consultar livros como o Bailey and Scott’ s Diagnostic Microbiology e o Manual of Clinical Microbiology,
publicados pela Sociedade Americana de Microbiologia (ASM). É importante que todos os estudantes
compreendam que a terapia antimicrobiana empírica pode ser refinada,
baseando-se na identificação preliminar de um organismo, pelas morfologias
microscópicas e macroscópicas e por testes bioquímicos rápidos selecionados.
Consulte a Tabela 16-3 para ver exemplos específicos.
Testes de Suscetibilidade
Antimicrobiana
Os
resultados do teste de suscetibilidade antimicrobiana in vitro são valiosos
para selecionar agentes quimioterápicos ativos contra o organismo infectante. Trabalho extensivo tem sido realizado visando
padronizar os métodos de ensaios clínicos e otimizar o valor preditivo dos resultados. Apesar destes esforços, ensaios in vitro são
simplesmente uma medida do efeito do agente antimicrobiano contra o organismo,
realizados sob condições específicas. A
seleção do agente e o resultado do tratamento no paciente são influenciados por
uma variedade de fatores relacionados entre si, incluindo as propriedades
farmacocinéticas e a toxicidade do fármaco, a doença clínica e o estado geral
do paciente. Assim, alguns organismos
que são “sensíveis” a um antibiótico, por exemplo, persistirão em uma infecção
e alguns organismos que são “resistentes” a um antibiótico, poderão ser eliminados. Por exemplo, a necessidade da presença de
oxigênio para que os aminoglicosídeos sejam internalizados em uma célula
bacteriana faz com que esses
antibióticos sejam ineficazes para o tratamento de um abscesso causado por um
anaeróbio. Do mesmo modo, concentrações
muito elevadas de antibióticos podem ser encontradas na urina. Assim, bactérias
responsáveis por infecções do trato urinário e resistentes a determinados antibióticos
podem ser eliminadas por meio de altas concentrações destes antibióticos na
urina.
Duas
formas gerais de testes de suscetibilidade antimicrobiana são realizadas no
laboratório clínico: testes de diluição em caldo e testes de agar-difusão. Para testes de diluição em caldo, diluições
seriadas de um antibiótico são adicionadas a um meio líquido nutritivo e, em
seguida, são inoculadas com uma concentração padronizada da bactéria a ser
testada. Após a incubação por uma noite,
a menor concentração do antibiótico, que é capaz de
inibir o crescimento da bactéria é referida como concentração inibitória mínima
(CIM). Para testes de agar-difusão, uma
concentração padronizada das bactérias é semeada sobre a superfície de um meio
sólido e, em seguida, discos ou fitas de papéis impregnados com fármacos
antimicrobianos são colocados sobre a superfície do meio agar. Após incubação por uma noite, uma zona de
inibição do crescimento é observada em torno dos discos ou fitas de papel. O tamanho da área de inibição corresponde à
atividade do fármaco — quanto mais suscetível ao agente antimicrobiano o organismo
for, maior será a área de inibição do crescimento. Padronizando as condições dos testes de
difusão em agar, a zona de inibição poderá corresponder ao valor do CIM.
Originalmente,
os testes de diluição em meio eram realizados em tubos de ensaio e eram extremamente
trabalhosos. Atualmente, sistemas
comerciais estão disponíveis; diluições de antibióticos são preparadas em
microplacas, sendo que a inoculação das placas e a interpretação das CIMs são
automatizadas. As desvantagens destes sistemas
consistem em diferentes tipos de fármacos antimicrobianos utilizados,
determinados pelo fabricante e no número de diluições limitado de cada fármaco. Dessa forma, tais sistemas podem muitas vezes
não conter os antibióticos ou outros agentes antimicrobianos recém-disponibilizados
no mercado. Testes de difusão são
trabalhosos, e a interpretação da zona de inibição pode ser subjetiva, porém, a
vantagem desses testes é que na prática todos os antibióticos podem ser
testados. A capacidade de ambos os métodos de suscetibilidade em predizer a
resposta clínica a um antibiótico é equivalente, por isso, a seleção do teste
deve ser determinada por considerações práticas.
Questões
1. Qual é o fator mais importante que influencia
o isolamento de microrganismos do sangue coletado de pacientes com sepse?
R=
O sucesso em obter uma hemocultura positiva de um paciente com bacteremia ou fungemia
é diretamente relacionado ao volume de sangue processado. A maioria dos pacientes clinicamente sépticos
possui menos de um organismo por mL de sangue.
A recomendação para garantir uma ótima recuperação de organismos é
coletar 20 mL de sangue de um paciente adulto para cada hemocultura e volumes
proporcionalmente menores para crianças e neonatos. Duas a três hemoculturas
devem ser coletadas num período de 24 horas.
2.
Quais organismos são importantes causas de faringite bacteriana?
R=
Streptococcus pyogenes (Streptococcus do grupo A) é a causa mais comum de
faringite bacteriana. Outras bactérias
que podem causar faringites incluem Streptococcus dysgalactiae (Streptococcus
grupo C ou G), Arcanobacterium haemolyticum, Neisseria gonorrhoeae, Chlamydophila
pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae. Corynebacterium
diphtheriae e Bordetella pertussis também podem causar faringite, mas não são
comumente isoladas nos Estados Unidos.
3. Que critérios devem ser utilizados para
avaliar a qualidade de uma amostra do trato respiratório inferior?
R=
Organismos que causam infecções do trato respiratório inferior (exemplos: pneumonia, bronquite, abscesso pulmonar) são
frequentemente originados do trato respiratório superior. A amostra apropriada para o diagnóstico de
infecções do trato respiratório inferior deve ser livre de contaminação do
trato respiratório superior. Estas
características podem ser acessadas no laboratório clínico pela avaliação da
amostra clínica quanto à presença de células epiteliais escamosas. Amostras contendo muitas células epiteliais
escamosas e nenhuma bactéria predominante em associação com leucócitos não devem
ser processadas para cultura.
4. Que métodos são utilizados para detectar as
três bactérias mais comuns causadoras de doenças sexualmente transmissíveis?
R= Atualmente, os testes de
amplificação de ácidos nucleicos são usados para detectar Neisseria gonorrhoeae
e Chlamydophila trachomatis em espécimes clínicas. Uma variedade de sistemas comerciais vem
sendo desenvolvida com este propósito. Estes
métodos são mais sensíveis que as técnicas convencionais de cultura. A sífilis, causada por Treponema pallidum, é mais
comumente diagnosticada por métodos sorológicos. A microscopia de campo escuro também pode ser
realizada, mas poucos laboratórios possuem experiência suficiente para utilizar
esta técnica. O organismo é muito fino para ser observado pelo método de
coloração de Gram.
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